quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Meu Suicídio

O suicídio é uma forma de assassinato – assassinato premeditado. Não é algo que se faz da primeira vez que se pensa em fazer. A gente precisa se acostumar com a idéia. E precisa dos meios, da oportunidade, do motivo. Um suicídio bem-sucedido exige boa organização e cabeça fria, coisas geralmente incompatíveis com o estado de espírito de quem quer se suicidar.
É importante cultivar um distanciamento. Uma forma de fazer isso é imaginar-se morto ou morrendo. Havendo uma janela, deve-se imaginar o próprio corpo caindo da janela. Havendo uma faca, deve-se imaginar essa faca penetrando a própria pele. Havendo um trem que já vai chegar, deve-se imaginar o próprio torso esmagado sob suas rodas. Esses exercícios são essenciais para se atingir o distanciamento necessário.
O motivo é de superlativa importância. Sem um motivo forte, vai tudo por água abaixo.
Meus motivos eram fracos: um emprego ruim que não me contribuía em nada e não supria minhas necessidades financeiras e a pergunta que eu me propusera meses antes: Por que não me matar? Morto, eu não teria que trabalhar, tal como pagar contas. Nem precisaria ficar ponderando a respeito.
Essa ponderação me desgastava. Depois que a gente se faz uma pergunta dessas, ela não nos larga mais. Acho que muita gente se mata só para por fim ao dilema de se matar ou não.
Tudo o que eu pensava ou fazia era imediatamente incorporado ao dilema. Fiz um comentário idiota – por que não me mato? Perdi o ônibus – melhor acabar com tudo. Até o que era bom entrava no jogo. Gostei desse filme – talvez eu não devesse me matar.
Na verdade, eu só queria matar uma parte de mim: a parte que queria me matar,que me arrastava para o dilema do suicídio e transformava cada janela, cada utensílio de cozinha e cada estação de metrô no ensaio de uma tragédia.
Só fui descobrir isso, porém, depois de engolir cinquenta aspirinas.