quinta-feira, 25 de abril de 2013

[Ainda sem nome]


Bruno caminhava por sua casa sem saber o que estava acontecendo. Havia acordado há apenas alguns minutos com dores de cabeça, culpa da ressaca da noite anterior.
Procurou na escrivaninha e na terceira gaveta encontrou um analgésico e tomou. Olhou para o longo espelho que estava encostado na parede a sua esquerda, refletiu, tentou lembrar o que havia acontecido na noite anterior...
Mais dores.
Resolveu então tomar banho pra ver se aquilo passava de uma vez por todas. Ligou o chuveiro e começou seu demorado banho quente enquanto pensava em quão silenciosa poderia ser uma mansão antiga, nas suas idas e vindas das delegacias de São Paulo e em como sua vida tinha mudado tanto nos últimos dias. Bruno estava de férias nos Estados Unidos, havia chegado há cerca de uma semana, depois de longa espera na liberação do seu visto pelo consulado americano.
Bruno Martins tem vinte e dois anos e é um bon vivant. Nunca trabalhou ou sequer quis saber disso. Não pretendia fazer nada além de passar todas as noites percorrendo as baladas e bares de São Paulo atrás de rapazes para preencher sua cama. Sua rotina baseava em chatear os pais, que bancavam todas as suas noitadas, cocaína e anabolizantes e sustentavam o seu apartamento nos Jardins, suas viagens e toda a confusão causada pelo filho problemático. Foi então que a família recebeu a informação que o irmão de seu pai havia falecido e deixado pra trás o império da maior empresa de trens do estado de Ohio, nos EUA.
Bruno agora é o único herdeiro da fortuna deixada por seu tio, Francisco Martins, um famoso empreendedor brasileiro que se mudou cedo para os Estados Unidos para tentar “se dar bem” na vida. Além da fortuna, seu tio deixou pra ele uma mansão localizada próxima a um grande lago chamado Erie e sua empresa. Com sorte, Francisco conheceu as pessoas certas, no lugar e na hora certa. Por anos, trabalhou em uma petrolífera no estado da Pensilvânia, onde vivia, mas se destacou mesmo com investimentos na indústria ferroviária, principalmente na cidade de Cleveland, onde está localizada a sede da sua empresa.
Foi então que os pais de Bruno decidiram que o melhor para ele, seria se mudar para os Estados Unidos e assumir a empresa do tio, para obter alguma responsabilidade. Bruno sequer discutiu, estava demasiado “chapado” de maconha no momento da conversa e só concordou. Para ele, seria apenas mais alguns dias de diversão, porém em solo americano recheado de gringos solteiros a espera de alguém que pudesse bancar.
Nesse ponto, Bruno sentiu náuseas e vomitou ali mesmo, no banheiro. Mal havia saído do banho, ainda nu, olhava para o espelho e só via um reflexo de um rapaz doente.
Se recuperou, tentou não pensar tanto na noite anterior. Foi então que voltou pro quarto e vestiu sua cueca, uma jeans velha e uma camiseta Calvin Klein. Espiou pela janela, já estava escuro e provavelmente já passava das 9h da noite. Lá de cima via-se apenas o carro de seu tio, sem o motorista, as mansões vizinhas há alguns quilômetros e as luzes de Raccoon City, mais distante.
Olhou para o quarto a procura de suas botas, mas a visão de uma bandeija de comida interrompeu sua procura e logo começou a degusta-la. Sua lasanha já estava fria, deveria ter sido deixada ali há algumas horas. Então Bruno deixou-a de lado e caminhou até a porta para chamar Mary, a sua empregada. Ninguém respondeu.
Lembrou-se que nos fins de semana, ela era a única responsável pela casa. Seu pensamento hedonista lhe fez imaginar que talvez Mary deveria estar com o George, o motorista, fazendo alguma coisa “errada”, já que estavam sozinhos na casa com o rapaz.
Caminhou até a beira da escada, sua barriga roncava. Chamou Mary novamente, sem sucesso.
Então, sem hesitar, gritou. Nada.
Decidiu voltar para o quarto quando ouviu passos. Ao pé da escada estava Mary, porém diferente. Seus trajes estavam rasgados e sujos.
Bruno se assustou quando Mary começou a subir as escadas aparentando embriaguez. Cambaleava fazendo ruídos apenas, com os braços esticados pra frente e os olhos sem vida. Se aproximava cada vez mais de Bruno, que assustado, recuou até a porta do quarto.
Mary aproximava cada vez mais gritando e Bruno a alertou para não avançar. Então a empregada avançou sobre o rapaz, derrubando-o no chão.
Bruno empurrava Mary, mas a mesma o arranhava muito e parecia tentar morde-lo de qualquer forma. Bruno então se soltou de Mary e tentou caminhar até as escadas pra pedir socorro. Mary surgiu atrás dele o empurrando e sem pensar, ele reagiu a empurrando escada abaixo.
Depois do estrondo da queda, Bruno se sentindo culpado caminhou até a empregada. O corpo imóvel de Mary jazia no chão, sem vida. Então, verificou que corpo não havia mais pulso ou sinal de respiração. Correu então até a sala, mas não encontrava o telefone. Abaixou-se, procurou nas gavetas e nada. Voltou para a porta da sala, e ao chegar ao átrio principal, viu Mary rastejando em sua direção. Novamente fazia muito barulho, e parecia um animal atrás de comida. Bruno então subiu as escadas correndo, pois a empregada não conseguiria subir as escadas nessa situação.
Ao chegar ao topo da escada, se deparou com o motorista. Ele correu para Bruno do mesmo jeito que Mary havia feito, então Bruno encostou no balaústre e no exato momento em que o motorista avançou sobre ele, Bruno empurrou o motorista para o centro do átrio, que o puxou junto. Com a queda, um grande estrondo.
George, o motorista, estava com o pescoço quebrado e com uma fratura exposta. Já Bruno, ainda tentava assimilar o que tinha acontecido.
Tentou levantar, mas não conseguia movimentar suas pernas. Foi então que percebeu que Mary rastejava em sua direção.
Bruno tentou com todas as forças se movimentar, mas tudo era em vão.
Foi então que... 

quarta-feira, 17 de abril de 2013

Photographs

Já parece que passou tanto tempo...




All I've got are these photographs
I remember when I used to make you laugh
I don't wanna be stuck in the past
But you're all that I have that I had
And I don't wanna lose what we've felt this far
This is me and you, you're my superstar
I'll give anything baby, here's my heart
My heart... my heart...

quinta-feira, 11 de abril de 2013

O descobrimento de Portugal



Demorei muito pra cair na real, estava anestesiado. Era um daqueles sonhos bobos que temos quando somos criança e nossa mãe escuta e dá risada. A minha dizia "sim, você vai morar fora do Brasil um dia!", pra me confortar, sempre com um sorriso estampado no rosto.
E hoje completo 1 ano desde que cheguei em terras lusitanas. É mais que um sonho realizado, é uma perspectiva e um caminho novo a cada dia. Portugal é um universo único e imensurável, que me surpreende a todo instante.
Lembro-me como se fosse ontem os preparativos, as expectativas... Dei o start! Desliguei-me do Brasil, da família, dos amigos... Fiz questão de visita-los, vê-los antes de embarcar. Foi um tchau bobo, sem cara de despedida, mas que fez molhar alguns dos rostos mais queridos desse mundo. Então, o desconhecido me aguardava. Cheguei e aprendi que não só de bacalhau e bigode, vive o portuga! Terrinha de gente maravilhosa, comida boa, bons "sítios" pra conhecer e uma variedade de coisas que sequer ser explicar. A cada passo, uma nova descoberta. São paredes e ruas que exalam cultura; o ar europeu que inspira qualquer leigo a se interessar por arte e, principalmente, a sensação de estar voltando no tempo a cada edificação que imprime a história de grande parte das nossas origens.
Aprendi que a língua portuguesa é muito mais rica do que imaginava. Ri disso e fiz outros rirem com a nossa diferença de sotaques e significados para as mesmas palavras. Aprendi também a viver por aqui, a fazer compras, a esperar os saldos, a converter e deixar de converter €uros pra Reai$ nos momentos certos.
Vi o tempo passar e senti cada estação com todas as suas características e diferenças bem acentuadas umas das outras, coisa que nunca tinha visto em solo tupiniquim. Senti com o tempo, a saudade e me permiti sentir tudo de bom e de ruim. A dor de passar o natal longe da família, o réveillon agasalhado... Sentei na areia e vi o sol morrer no mar, distante enquanto tomava uma taça de vinho do Porto. Cresci. Desapeguei. Deixei voar e voei. Logo vieram as lições que somente a experiência de morar em outro país lhe proporciona e as várias dificuldades que normalmente um imigrante enfrenta.
Fui (sou) vítima de preconceito por ser brasileiro e aprendi dar valor a minha pátria amada, e a ter o sonho inverso, de poder voltar e viver de um jeito que só quem vive fora de lá pode entender. E para os que ficaram sem notícia minhas, eu estou bem. Vivo bem, sem luxos. Divirto-me, tenho minhas “saídas”, tenho colegas, amigos e pessoas aqui que posso chamar de “família”. Viajo quando dá e sou feliz aqui e com muito pouco. E é uma felicidade que não há cifrões nas entrelinhas pra me iludir e alimentar uma esperança de ostentação de um padrão social. Não tenho carro, utilizo transporte público e adoro andar de metro. (Preciso dizer que não há comparação com o metrô de São Paulo?) Acredito que não preciso dizer também sobre desigualdade, segurança, educação, saúde pública... Vamos falar de coisa boa? Coisa boa é viver sem se preocupar se os móveis da casa onde você vive são seus ou não; é poder apreciar uma visão incrível do lugar em si; é ter papos em cafés com pessoas dos mais longínquos lugares do mundo sobre filosofia e qualquer assunto que renda longas horas de boas risadas; é voltar pra casa a pé às 3h da madrugada sozinho sem ficar com o coração disparado por ouvir passos atrás de ti e o mais importante, é pensar em “trabalhar pra viver e não viver pra trabalhar”.
Queria poder dividir essa experiência com minha família, meus amigos e que todos no Brasil tivessem isso também!
E que upgrade na vida? Pensar que havia pessoas que sempre cultivaram aquele pensamento limitante de que um garoto de classe média, de uma cidadezinha pequena do interior de São Paulo, sem muita perspectiva de vida não chegaria até aqui. Hoje me orgulho de onde cheguei, não por estar aqui somente, pois não é o fim do caminho, mas por tudo o que passei e por quem me tornei. Por cada conquista, cada puxão de orelha, sorriso, beijo, confidência, abraço, conselho, lágrima, por cada instante. Nunca comprei essa ideia de que “eu não tinha conserto”. Aprendi a ouvir as pessoas, até quando não concordava. Corri atrás do prejuízo e os resultados foram aparecendo aos poucos, no seu tempo. E escrevo isso não é pra provar nada pra ninguém, é pra descer do “salto” (até porque nem tudo são rosas) e agradecer de coração a cada uma das pessoas que estão a ler esse texto hoje. Portanto, obrigado por terem ajudado com um tijolinho na construção desse meu novo caminho e por me aceitarem, me criticarem e por hoje, comemorarem isso comigo.
Estar aqui é apenas o começo da caminhada e quero aproveitar muito ainda esta oportunidade de habitar esse admirável mundo novo. O amanhã a Deus pertence e eu não sei o que me aguarda, mas por hora cá estou e não quero ir embora. O Porto é minha casa e quem quiser conhecer seus encantos, fica aqui o convite! Que venham mais estações!!!

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Atualização: Meu texto foi publicado no blog oficial de língua portuguesa do site My Heritage, rede social especializada em criar e gerenciar árvores genealógicas.
http://blog.myheritage.com.br/2013/04/22-de-abril-o-descobrimento-de-portugal/#.UXW-0GT8pj0

segunda-feira, 1 de abril de 2013

Você


Essa sensação é tão supercial
Finjo bem que algo sinto
Enquanto isso me faz mal
É, pra mim mesmo minto

Me entrego sem pensar
Para outros divertir
E os faço acreditar
E até mesmo sorrir.

O tempo já parece
Não querer colaborar
Te esquecer é preciso para eu melhorar.

Eu quero acordar, voltar a sentir
O cheiro das rosas, a cor da vida
Sem sua sombra pra me confundir.