quinta-feira, 11 de abril de 2013

O descobrimento de Portugal



Demorei muito pra cair na real, estava anestesiado. Era um daqueles sonhos bobos que temos quando somos criança e nossa mãe escuta e dá risada. A minha dizia "sim, você vai morar fora do Brasil um dia!", pra me confortar, sempre com um sorriso estampado no rosto.
E hoje completo 1 ano desde que cheguei em terras lusitanas. É mais que um sonho realizado, é uma perspectiva e um caminho novo a cada dia. Portugal é um universo único e imensurável, que me surpreende a todo instante.
Lembro-me como se fosse ontem os preparativos, as expectativas... Dei o start! Desliguei-me do Brasil, da família, dos amigos... Fiz questão de visita-los, vê-los antes de embarcar. Foi um tchau bobo, sem cara de despedida, mas que fez molhar alguns dos rostos mais queridos desse mundo. Então, o desconhecido me aguardava. Cheguei e aprendi que não só de bacalhau e bigode, vive o portuga! Terrinha de gente maravilhosa, comida boa, bons "sítios" pra conhecer e uma variedade de coisas que sequer ser explicar. A cada passo, uma nova descoberta. São paredes e ruas que exalam cultura; o ar europeu que inspira qualquer leigo a se interessar por arte e, principalmente, a sensação de estar voltando no tempo a cada edificação que imprime a história de grande parte das nossas origens.
Aprendi que a língua portuguesa é muito mais rica do que imaginava. Ri disso e fiz outros rirem com a nossa diferença de sotaques e significados para as mesmas palavras. Aprendi também a viver por aqui, a fazer compras, a esperar os saldos, a converter e deixar de converter €uros pra Reai$ nos momentos certos.
Vi o tempo passar e senti cada estação com todas as suas características e diferenças bem acentuadas umas das outras, coisa que nunca tinha visto em solo tupiniquim. Senti com o tempo, a saudade e me permiti sentir tudo de bom e de ruim. A dor de passar o natal longe da família, o réveillon agasalhado... Sentei na areia e vi o sol morrer no mar, distante enquanto tomava uma taça de vinho do Porto. Cresci. Desapeguei. Deixei voar e voei. Logo vieram as lições que somente a experiência de morar em outro país lhe proporciona e as várias dificuldades que normalmente um imigrante enfrenta.
Fui (sou) vítima de preconceito por ser brasileiro e aprendi dar valor a minha pátria amada, e a ter o sonho inverso, de poder voltar e viver de um jeito que só quem vive fora de lá pode entender. E para os que ficaram sem notícia minhas, eu estou bem. Vivo bem, sem luxos. Divirto-me, tenho minhas “saídas”, tenho colegas, amigos e pessoas aqui que posso chamar de “família”. Viajo quando dá e sou feliz aqui e com muito pouco. E é uma felicidade que não há cifrões nas entrelinhas pra me iludir e alimentar uma esperança de ostentação de um padrão social. Não tenho carro, utilizo transporte público e adoro andar de metro. (Preciso dizer que não há comparação com o metrô de São Paulo?) Acredito que não preciso dizer também sobre desigualdade, segurança, educação, saúde pública... Vamos falar de coisa boa? Coisa boa é viver sem se preocupar se os móveis da casa onde você vive são seus ou não; é poder apreciar uma visão incrível do lugar em si; é ter papos em cafés com pessoas dos mais longínquos lugares do mundo sobre filosofia e qualquer assunto que renda longas horas de boas risadas; é voltar pra casa a pé às 3h da madrugada sozinho sem ficar com o coração disparado por ouvir passos atrás de ti e o mais importante, é pensar em “trabalhar pra viver e não viver pra trabalhar”.
Queria poder dividir essa experiência com minha família, meus amigos e que todos no Brasil tivessem isso também!
E que upgrade na vida? Pensar que havia pessoas que sempre cultivaram aquele pensamento limitante de que um garoto de classe média, de uma cidadezinha pequena do interior de São Paulo, sem muita perspectiva de vida não chegaria até aqui. Hoje me orgulho de onde cheguei, não por estar aqui somente, pois não é o fim do caminho, mas por tudo o que passei e por quem me tornei. Por cada conquista, cada puxão de orelha, sorriso, beijo, confidência, abraço, conselho, lágrima, por cada instante. Nunca comprei essa ideia de que “eu não tinha conserto”. Aprendi a ouvir as pessoas, até quando não concordava. Corri atrás do prejuízo e os resultados foram aparecendo aos poucos, no seu tempo. E escrevo isso não é pra provar nada pra ninguém, é pra descer do “salto” (até porque nem tudo são rosas) e agradecer de coração a cada uma das pessoas que estão a ler esse texto hoje. Portanto, obrigado por terem ajudado com um tijolinho na construção desse meu novo caminho e por me aceitarem, me criticarem e por hoje, comemorarem isso comigo.
Estar aqui é apenas o começo da caminhada e quero aproveitar muito ainda esta oportunidade de habitar esse admirável mundo novo. O amanhã a Deus pertence e eu não sei o que me aguarda, mas por hora cá estou e não quero ir embora. O Porto é minha casa e quem quiser conhecer seus encantos, fica aqui o convite! Que venham mais estações!!!

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Atualização: Meu texto foi publicado no blog oficial de língua portuguesa do site My Heritage, rede social especializada em criar e gerenciar árvores genealógicas.
http://blog.myheritage.com.br/2013/04/22-de-abril-o-descobrimento-de-portugal/#.UXW-0GT8pj0