sexta-feira, 13 de maio de 2011

A teoria do cheetos bolinha sabor queijo

O ser humano não é movido pela razão. Não é a lógica que nos leva a
pensar, tomar decisões ou agir, tudo é muito mais subjetivo do que
pensamos. Até seus desejos são frutos da subjetividade e da
aleatoriedade. Até o sucesso é assim. É tudo aleatório, nem dá vontade
de sair de casa.
A web reproduz essa realidade do mundo humano, e real, igualzinha, sem
clicar nem pôr. Em qualquer tela que você olhe, vai ver gente sem
talento fazendo sucesso, expressões idiotas virando moda, vídeos
estúpidos viralizando e assuntos 100% nada a ver nos Trending Topics
Brasil. Por quê?
A resposta pode estar no efeito Cheetos bolinha sabor queijo que você
certamente já deve ter comido. O salgadinho é tudo de fake, tudo de
ruim, tudo de absurdo. É totalmente artificial, solta pozinho que
gruda nos dedos e nos dentes, tem cor de mexerica, textura de isopor,
aroma de todas as meias dos jogadores de um time inteiro de basquete.
Alguns consumidores já teorizaram sobre a possibilidade dos
funcionários peidarem nos saquinhos, fato que nunca foi comprovado. E,
claro, contém gordura, glutamato de sódio, muito sal e coisas que
certamente não vão compor uma refeição nutritiva. A gente sabe de tudo
isso. Está escrito no saquinho. E, no entanto, a gente come. Por quê?
Porque é gostoso. Porque a gente começa e cai no vício. Porque existe.
Porque está logo ali na mão. Porque vende. Porque sim. Mas, sobretudo,
porque não é uma questão de lógica, mas uma questão de afeto.Bolinha é
uma coisa fofa. Todo mundo brincou com bola e bolinha, a gente tem
memória afetiva. E queijo é uma coisa deliciosa, mesmo que seja só uma
palavra, uma ideia, muito longe de estar presente no salgadinho. E tem
o barulhinho, aquele monte de crock, crack, creck que vai distraindo a
pessoa enquanto ela vai mastigando. E o cheiro ruim, bem, é tão ruim
que acaba sendo bom. E, mesmo que não faça bem, ah, sei lá, é lúdico
ficar com os dedos cor de laranja. Dá vontade de chupar os dedos e
continuar até o final do saquinho. E quando acaba a gente ainda come o
resto do pozinho, improvisando um deep-and-lick na cara dura.
Sim, senhoras e senhores membros do conselho, a gente sabe de tudo.
Mas informação não muda comportamento. Saber não basta pra fazer ou
deixar de fazer. E é por isso que as pessoas continuam clicando em
links que não devem, abrindo arquivos que contaminam, jogando lixo no
chão e dando forward em PPT com musiquinha midi. Na vida on e offline
agimos por motivos ilógicos.
Tenha sempre isso em mente quando você estiver numa rede social. As
pessoas estão lá por razões diversas, agem como agem por motivos
incompreensíveis e a única forma de sobreviver é não usar muito a
lógica. Deixe a lógica pra outra ocasião, digamos, pra sua próxima
refeição. Certeza que você vai trocar o próximo pacote de salgadinho
por uma carambola. NOT.

Por Rosana Hermann