sexta-feira, 2 de julho de 2010

A Via Láctea: viagem pelo tempo/espaço

Devaneios que vão de solidão ao ciúme doentio
Por Orlando Olivas



O filme de Lina Chamie, “A Via Láctea” (2007), narra um drama de professor de literatura, paulistano e apaixonado.
Logo na primeira cena do filme, percebe-se a presença de efeitos sonoros incomuns que vão de “Tom e Jerry” a “Requiem” de Mozart. E a lógica não linear do filme nos faz ter a sensação que estamos assistindo a um sonho.
O filme começa com o estressado professor Heitor (Marcos Ricca) em uma rua. Após uma cena de atropelamento se inicia uma seqüência de cenas que acompanham o enredo do filme, que acontece sob o trânsito caótico da cidade de São Paulo.
Cheio de narrações, diálogos simples, citações literárias, e imagens fortes do dia-a-dia do personagem, o filme mostra fielmente o panorama paulistano, com as características sociais, econômicas, culturais de uma cidade grande: o trânsito, mendigos, as condições humanas, etc.
São Paulo deixa de ser cenário e passa a ser personagem, e suas características influenciam diretamente o enredo e o humor de Heitor, que tem uma briga com sua amada, a atriz e veterinária Júlia (Alice Braga), e entra no carro com o objetivo de ir à casa dela para se reconciliarem e evitar uma possível traição.
A angústia presente no filme se segue devido a ansiedade de se chegar ao destino. Enquanto isso, Heitor conversa com seu subconsciente através da personificação do rádio, da menina do semáforo, do ladrão, do menino que sai em fuga... Até mesmo o cachorro que ele atropela tem uma função importante no desenrolar da história.
A narrativa também menciona vários escritores, como Shakespeare, Machado de Assis, Mario de Andrade, Manoel Bandeira e Carlos Drummond de Andrade.
Além disso, nota-se a melodia presente a cada cena, as peças de teatro, a cena épica da biblioteca, a dança, a figura da mãe e a mudança de época, e claro, a intimidade do casal.
O final, surpreendente e surreal, fecha com simplicidade a principal realidade da vida, o amor. E como diria Tom Jobim: “É impossível ser feliz sozinho”.