sábado, 3 de julho de 2010

Roupa Íntima

Não leve a mal, eu poderia escrever sobre qualquer outra peça de roupa. Talvez alguma mais vistosa aos nossos olhos, que enche o olhar com mil detalhes da última moda. Mas nenhum outro item seria tão íntimo como o pijama. Falo daquele traje que é só seu, de se usar em casa nas horas mais preguiçosas do dia.
Às vezes, sobra tão pouco dessas horas que esquecemos dele guardado no fundo de uma gaveta junto com nossas peças menos usáveis. Mas é só uma folga chegar, uma crise afundar ou um namoro acabar que lá vai nosso fiel escudeiro de volta ao trabalho e, em questão de segundos, nos tira de um meio público onde vestimos as roupas pelo intuito de nos apresentar à sociedade, e então entramos numa zona de conforto só nossa, num universo que só cabe a nós.
Qual outra roupa te deixaria tão confortável diante destas situações desmerecidas da vida? Um terno pode trazer mais segurança nas horas de se apresentar em público, e um vestido de festa arrasador certamente nos trará mais confiança naquela ocasião importantíssima. Mas quem disse que confiança remete conforto? Na hora do aperto mesmo nada como aquele bom e velho pijaminha.
Velho, fora de moda, talvez já um pouco esgarçado e com aquele furinho debaixo do braço. Jogar fora? Impossível. Certamente ele já foi parar na pilha de "roupas para doar", numa atitude mais rebelde de nossas mães, mas corremos para resgatá-lo, quase como um final de filme esperançoso de amor.
Tenho uma pequena equipe desses, que me acompanha há um bom tempo. Criamos uma espécie de relação confidencial e eles percebem quando estou com frio, calor... Com saudades do namorado (aquele moleton dele antigo, mas tão protetor!), com vontade de me cobrir inteira pelo edredom e não sair mesmo se o mundo acabar (os mais confortáveis do mundo - sim, de algodão!), e aqueles que acompanham os dias que não quero fazer simplesmente nada, só ficar em casa de pijama o dia todo. Porque ficar de pijama o dia todo significa o máximo de descomprometimento com o mundo, e talvez essa seja a nossa única oferta anti-stress natural na atualidade. E acredito na máxima que tempo é a melhor qualidade de vida que podemos ter. Ou não, pois, me desculpem, mas tenho que tirar o pijama e colocar uma roupa mais apropriada para começar essa manhã de sábado.

Por Élita de Caria