quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Encarnado

Estava exposto e todos me olhavam.
"Para, com isso, não sou vitrine.", pensei.
Foi um susto no inicio, mas meu coração não disparou.
Eu estava intacto, por dentro inquieto tentando me mexer, mas todos os meus esforços eram em vão.
Meus olhos estavam tão fechados que parecia que tinham sido colados com "super bonder". Mas eu SENTIA que a atenção estava voltada a mim, aqueles olhares...
Também não conseguia ouvir nada além de choros e consolos. Será que eu estava perdendo minha audição?
Senti alguém se aproximar e suas lágrimas cairam sobre meu corpo com um ruido seco e sem vida.
De repente, um toque na minha mão gelada... e um "Adeus".
"Hey, Eu não quero ir. Aliás, pra onde vocês estão me levando?", tentei falar mas nenhum som saiu da minha boca.
Reconheci algumas vozes.
Um barulho e senti a escuridão tomar conta do ambiente.
Mesmo com o som abafado, senti que estava em movimento...
Ouvi passos...
TUDO PAROU.
De repente lembrei de tudo, de estar no cruzamento da Av. Andrômeda com a Rua Draco e atravessar a rua sem hesitação assim que o sinal ficou vermelho.
Em uma fração de segundos estava novamente dentro da minha nova casa.
Era fria, e calma. Pensei em como foi indolor aquele carro vermelho bater no meu corpo com tanta velocidade.
Apenas um piscar de olhos, nem houve seque um ultimo suspiro.
BRUM...
Alguma coisa caira sobre minha casa.
Talvez estivesse chovendo muito, mas não... o barulho parou.
BRUM... novamente, o que estava acontecendo?
O barulho continuou, ficando cada vez mais baixo até cessar.
Solidão! Nada mais ouvia, nem via, sentia...
Eu estava agora enterrado. E triste, afinal havia tanta coisa ainda a se fazer.
Tantos beijos para dar no meu grande amor.
Guardei dinheiro para quê?
Queria ver o meu sobrinho crescendo e entrando pra faculdade.
Queria...
Mais nada sentia. Apesar de conseguir ver uma porta à minha frente, não conseguia deixar esse corpo que um dia me pertenceu.
E pior que isso, não sabia que sentiria cada verme da terra comendo a minha carne.